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A mulher somos nós!

Foto do escritor: Flavia QuintanilhaFlavia Quintanilha

Esta semana assisti a primeira temporada de uma série nova da Paramount, A primeira-dama. Fiquei realmente muito envolvida com a história das três personagens que enlaçaram suas vidas tendo em comum a Casa Branca: Eleanor Roosevelt, Betty Ford e Michelle Obama. Três mulheres impressionantes e que contribuíram para alcançar mudanças fundamentais em seu país, mas não quero aqui contar a série e sim colocar o contexto do que me fez pensar sobre o tema de hoje: a mulher perde!

Quero começar com o último episódio da primeira temporada que apresenta a derrota de Hillary Clinton para a presidência dos EUA e a fala de Michelle Obama afirmando que a derrota se deu pelo país não ter suportado um negro como seu residente. Sinceramente penso que vai muito além disso. Não estou colocando que o racismo não contribuiu para o resultado, visto que a Michelle acabou fazendo campanha para a Hillary. Mas o ponto fundamental, ao meu ver, foi pela misoginia. As mulheres perderam naquela ocasião. As duas mulheres mais populares e adoradas dos Estados Unidos não foram capazes de vencer um misógino que fez sua campanha justamente em cima dessa tecla. Um candidato que teve um vídeo seu viralizado dias antes das eleições com ele mesmo afirmando coisas horríveis sobre mulheres. Ele venceu. Ora, não precisamos ir muito longe, nós tiramos uma mulher eleita presidente aqui mesmo no Brasil. Mas isto não foi o suficiente, tivemos que ridicularizar, fazer piadinhas e humilhar a mulher política mais corajosa e admirável que este país já conheceu. Sim, a mulher perdeu lá e aqui com estes acontecimentos; A mulher perde quando uma menina é violada. A mulher perde quando outras mulheres estando ocupando funções de poder não protegem essas meninas que sofrem todo tipo de violência. A mulher perde quando são agredidas por seus companheiros e ninguém interfere. A mulher perde quando tem medo de manifestar suas ideias e desejos em sua própria casa. A mulher perde quando não é reconhecida ou promovida em seu trabalho. A mulher perde quando está entregue nas mãos de profissionais da saúde e são estupradas, desrespeitadas, apalpadas, molestadas.

É nauseante pensar em todos estes séculos de história da humanidade e que ainda hoje tentam tirar a força das mulheres e proibi-las de ocupar seu próprio espaço no mundo. Acontece que não precisamos que nos deem um espaço. Já o temos, nascemos com direitos sobre ele e podemos ser e fazer o que bem entendermos de nossas vidas. E se algumas ainda não entenderam isto, se ainda têm medo de ocupá-lo, temos um dever moral de apoiá-las, acolhê-las e ajudá-las a romper as amarras e esclarecer os pontos ainda não compreendidos sobre sua própria liberdade. Nós mulheres devemos tomar esta iniciativa. A mulher vence quando tem apoio de outra mulher. A mulher vence quando alguém impede um tratamento misógino. A mulher vence quando pode andar por onde quiser, como quiser e voltar para casa em segurança. A mulher vence quando profissionais da saúde denunciam superiores que são estupradores. A mulher vence quando uma mulher pode estudar e trabalhar na profissão que escolher. A mulher vence quando um homem muda sua atitude e questiona a atitude machista de um amigo. A mulher vence quando tem seus desejos repeitados. A mulher vence quando seu protagonismo é apoiado por outras mulheres. A mulher vence quando um estupro não acontece, quando os números de violência contra a mulher caem.


Ter visto este seriado me fez pensar o que sempre penso: quantas mulheres maravilhosas já existiram e que tiveram forças para seguirem naquilo que acreditavam e agora são lembradas. Que nossas filhas, netas… possam ser as heroínas de suas próprias histórias assim como foi Dandara, Jovita, Ana Nery, Maria Quitéria, Zuzu, Eleanor, Marie, Simone, Hannah, Ângela, Conceição, María, Iracema Rã-Nga, Francisca dos Anjos (Fanny)…

A mulher vence quando percebemos que a mulher é o mundo, a mulher somos nós!

“Como forma de poder, a sujeição é paradoxal. Uma das formas familiares e angustiantes como se manifesta o poder está no fato de sermos dominados por um poder externo a nós. Descobrir, no entanto, que o que “nós” somos, que nossa própria formação como sujeitos, de algum modo depende desse mesmo poder é outro fato bem diferente. Estamos acostumados a pensar no poder como algo que pressiona o sujeito de fora, que subordina, submete e relega a uma ordem inferior. Essa é certamente uma descrição justa de parte do que faz o poder. Mas, consoante Foucault, se entendemos o poder também como algo que forma o sujeito, que determina a própria condição de sua existência e a trajetória de seu desejo, o poder não é apenas aquilo a que nos opomos, mas também, e de modo bem marcado, aquilo de que dependemos para existir e que abrigamos e preservamos nos seres que somos. O modelo habitual para entender esse processo é este: o poder se impõe sobre nós; enfraquecidos pela sua força, nós interiorizamos ou aceitamos seus termos. O que essa descrição não diz, no entanto, é que “nós” que aceitamos tais termos somos fundamentalmente

dependentes deles para “nossa” existência. Não existem condições discursivas para a articulação de um “nós” qualquer? A sujeição consiste precisamente nessa dependência fundamental de um discurso que nunca escolhemos, mas que, paradoxalmente, inicia e sustenta nossa ação.” Judith Butler

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