O perdão sempre esteve como uma das ações mais difíceis e mais exigidas pelos seres humanos. Ele está presente desde o início da religião mais remota. E sempre colocado com a ação esperada em certas situações. O ato de perdoar, aparentemente, está atrelado ao amor. Ou o que se entende por amor no senso comum.
Quando se fala em perdão, imediatamente vem em nosso pensamento alguma citação de Buda, Gandhi ou Jesus Cristo. Madre Teresa de Calcutá certa vez disse que o perdão é algo “essencial” e que “se nós realmente queremos amar, teremos que aprender a perdoar”. Já alguns estudiosos do budismo dizem que perdoar é dizer: a vingança acaba em mim!
Segundo o Bala-Pandita Sutta, Buda teria dito que no mundo existiam dois tipos de tolos: “aquele que não vê sua própria transgressão como transgressão, e aquele que não perdoa corretamente o outro que confessou sua transgressão”.
Tendo em mente todas essas afirmações, gostaria de propor um outro caminho. Quem ama não perdoa!
Calma! Deixe-me explicar. Vamos partir da primeira parte da afirmação de Buda, “ aquele que não vê sua própria transgressão como transgressão”. Supostamente, aquele que pede perdão estaria reconhecendo o que fez e assim seria digno dele. Mas o fato de pedir perdão não seria declarar a falta de coragem de ver o ato para superá-lo? Observar-se a ponto de admitir “o erro” e modificar a própria ação. Quando se pede perdão transfere-se ao outro a chave do absolvimento. Como se o consentimento do outro fosse necessário para o reconhecimento do ato. Esse tolo a quem Buda se refere é aquele que se isenta do olhar para si, é aquele que evita a dor ou até mesmo se coloca acima dela. Aquele a qual a dor não alcança. A segunda parte “(…) aquele que não perdoa corretamente o outro que confessou sua transgressão” nos remete ao mesmo pensamento. Aquele que não consegue olhar para o outro como aquele que também sofre, pois ainda não ousou olhar para si mesmo. Ainda não admitiu sua humanidade e, por essa razão, não identifica a humanidade do outro. Sua fragilidade. Ambos esquecem-se de entregar-se à angústia. Aquilo que Sarte trata como a condenação de ser livre.
A escolha pelo reconhecimento que se é livre, passa necessariamente pelo momento de angústia. Passa pela dor. É essa angústia que nos faz um ser-aí. É ela que nos humaniza e nos universaliza. Esse é o lugar comum de nossa humanidade, e o sofrer consciente, o passar desperto por esse lugar, nos realiza e nos permite aceitar o outro.
É necessário perdoar para amar?
Não! Faz-se necessário amar para amar.
Tomar-se a si como o ser que vive e seus atos implicam outros. Ninguém sai ileso da vida e quanto mais nos entregamos mais ela nos faz crescer.
Olhe-se como aquele ser que existe em suas fragilidades e cresce. Olhe o outro como aquele que existe em suas fragilidades e cresce.
Permita-se ser o que todos são, livre!
Dias iluminados!
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