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silêncio do dia

Foto do escritor: Flavia QuintanilhaFlavia Quintanilha

O dia em que a amor morreu ele estava inteiro, pronto para ser entregue junto ao poema e a melodia que sorria boba entre as nuvens . Estava forte, solto, denso e manso. Pronto para esperar. Pronto para ser mais e estar muito mais tempo do que já tinha esperado. Era um amor confiante, desses que nasceu para ser livre e inteiro. Nenhuma nuvem antiga o seguia. Tinha o céu aberto este amor. Mas amor nenhum vive de um lado só. Do lado errado da cerca. Nenhum amor vive da falta. Nenhum amor sobrevive sem o mínimo. Foi por brincadeira que o amor morreu naquele dia. Arrancado pela medida da escolha e nem era por nada bom. Só um teste, uma curiosidade e uma ruína que já havia matado antes muitas vezes matou novamente. Morreu de tocaia e nem percebeu. O dia em que o amor morreu já havia florido. Já estava gravado na letra do dicionário em página inteira. Já tinha dado livro e vídeo e foto. E era tão fundo que ao ser arrancado levou a raiz do que restava daquele caco de alma. O dia em que o amor morreu fez silêncio em quase toda a cidade. Num canto da página em que se guardava o endereço um borrão. É desse nada que se mata o amor. A confiança superficial de um cabelo alinhado e o cheiro de novidade. Naquele dia em que o amor morreu ninguém gozou e quase ninguém viu a lua e o céu deixou de ser imenso e a poeira cresceu por todas juras e o olhar que esteve dentro do olhar e suor e cheiro e ano e não, não adianta mais pensar no que seria depois que o amor está morto ali, no chão, sangrando e com as dores expostas e partido aos pedaços e num último suspiro tentar entender porque foi jogado fora sem ter sido gasto. Feitio de brinquedo antigo. O dia em que o amor morreu comeu seu prato preferido em frente aos olhos que lhe partiu fundo o inteiro que não se deu. Nem um copo d’água pediu e caiu dezenas de andares na rua da realidade negada naquele dia em que o amor morreu o vulcão do corpo queimou a zero grau e cada árvore da rua arcou-se em cortejo. O dia em que o amor morreu os pássaros não voltaram e seu corpo tremia ao segurar aquele pedaço que não foi entregue, estava ali, sempre esteve ali






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