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Você sabe o que acontece nas escolas públicas hoje?

Foto do escritor: Flavia QuintanilhaFlavia Quintanilha

Hoje gostaria de ter feito um poema. Aquele que anda me rondando há dias. Mas não fiz! Ele se recusou a me visitar, pois meu espírito foi tomado de uma profunda tristeza. Tirei mesmo o dia para chorar. É, quando não vemos saída muitas vezes o que nos resta de mais corajoso é chorar. Longe de querer espalhar o que me entristece trago aqui minha única pergunta: você acredita na educação?

Antes de me responder, quero apresentar um panorama. Em 2016 atuei como professora contratada pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná, os ditos PSS. Era uma seleção não muito justa, pois aqueles que tinham apenas cursos de pós graduação lato senso pontuavam o mesmo que um mestrado ou doutorado. Mesmo assim um grade número de professores supriam a falta de profissionais em várias disciplinas. Sim, mesmo em péssimas condições, era uma alegria poder estar em sala de aula. Digo péssimas condições, pois sabíamos que quando chegasse dezembro seríamos demitidos e depois recontratados no outro ano, passando novamente por aquele processo seletivo. Mesmo com todo esse stress da seleção dificilmente ficávamos sem aula. Lembro-me que nesse ano já estávamos tensos com a tal reforma que iriam fazer no ensino médio, hoje isso é uma realidade e é essa a razão desse texto.

No último ano que pude entrar em sala de aula, o colégio em que trabalhei acolhia um grande número de moradores daquela região. No período da manhã eu tinha 6 turmas de primeiro ano e 2 turmas de terceiro ano. A noite tinha 3 turmas de primeiro ano. É um colégio grande, prédio com dois andares, laboratório, biblioteca e informática. Se lembro bem, comportava 20 turmas em 3 períodos. Hoje, o turno da noite tem apenas duas turmas para finalizar o ensino médio que já não pode mais ter novos alunos no período noturno. Essa situação me fez pensar, não é uma reforma que estão fazendo. Estão matando o que resta da educação pública.

Ontem olhei nos olhos de professores e pedagogos que conheço há muitos anos e o que vi foi um vazio. São os últimos momentos da educação pública, enfatizo “educação pública”, pois foi ali que fiz todo meu percurso escolar. Em escolas e colégios públicos. Sim, estudei na época da ditadura com cadernos com hinos nas contracapas. Tive EPB, OSPB e Primeiros Socorros na grade. Tive filosofia e sociologia no magistério em meio há dezenas de didáticas. A lei era outra, depois veio as diretrizes e há muito pouco tempo recolocamos filosofia e sociologia no currículo. Mas nunca vi o que vejo agora, um esforço vil em destruir a educação pública.

Não quero levantar aqui se você está feliz com o voto que fiou na última eleição. Mas parou pra pensar que você, quem sabe, também estudou em um desses colégios? Vai lá fazer uma visita. Veja com seus próprios olhos. Um colégio inteiro para atender duas turmas que serão as últimas. 18 salas vazias. Inúmeros professores e outros profissionais sem trabalho. Profissionais que competirão com você ou seus filhos por uma vaga em algum supermercado, empresa de material de construção ou qualquer outra colocação que não precise de conhecimentos específicos.

Ter o ensino público fortalecido é a certeza que nossos filhos e netos poderão ser o que quiserem. Historiadores, Advogados, Economistas, Engenheiros. A primeira mulher a se formar em engenharia civil foi Enedina Alves Marques, negra e trabalhou para o governo do estado como responsável por várias obras que estão de pé até hoje. Se você que está lendo esse texto e não nasceu em uma família abastada certamente sentirá um orgulho particular pela carreira de Enedina e de tantas outras pessoas que conseguiram estudar e mudar suas vidas. Mas não agora, não para o nosso futuro. Estamos destruindo o ensino público.

Então eu pergunto: você acredita na educação?

Então eu respondo: SIM! Qual seria outra forma de melhorarmos como pessoas e agirmos como cidadãos comprometidos com o todo?

Mas pense, a educação só liberta se o acesso for para todos.

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