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Amor para dois

Foto do escritor: Flavia QuintanilhaFlavia Quintanilha

Aos quatorze anos prometi nunca iniciar uma frase com: Se eu tivesse feito… Posso dizer que isto norteou a base de minhas escolhas ao longo de meus dias até agora e hoje percebo que foi a melhor escolha que poderia ter feito. Nada me determinou a não ser a recusa de não viver, de não escolher. E assim foi feito. Em uma vida acumulamos histórias e desses acontecimentos as escolhas é que valem. Posso dizer, influenciada por Simone de Beauvoir, é difícil se tornar mulher. A mulher. O que desejamos ser. O que somos mas ainda não se realizou. E não é a vida uma sucessiva avalanche de escolhas? Que assim seja até o último dia, a última escolha.


Daquela garota adolescente que tinha sua bicicleta como a significação de liberdade carrego um meio sorriso e infinitas aventuras. 13897 dias sem falhar uma história, gargalhada ou choro e os amores, infinitos… pela escrita, pela poesia, pelo cinema, música, meninos, mulheres. Nenhuma regalia fora da memória. Todas as fantasias indo dormir juntinhas de mim e o acordar para realizá-las. Sem premunição ou desvios nos sonhos. O aqui e o amor. Mas o que seria isto, o amor?


Já parou para perceber o quanto de moldes existem para o amor? Se você que está lendo é mulher sabe muito bem sobre isto. Qual tipo de amor te ganha? O louco, passional? O romântico, das promessas? O sigiloso, dos compromissos? O estandarte, das paradas? Ah, sempre haverá um olhar voltado ao alcance. O que nos liberta é o que nos interessa. E muitas vezes não se alcança a promessa que se fez. Assim como a sociedade impõe os modelos, nós não percebemos o quanto estes modelos estão impressos em nossos desejos. Qual desejo é só seu? O medo de escapar dá um medo ainda maior de romper a linha. É como um laço do presente, tão lindo, que ficamos um breve espaço de tempo olhando para o pacote admirando sua beleza sem desejar o interior. Qual laço é a sua armadilha que apaga o amor? E esta escolha, pelo medo de romper a estrutura de seu molde, apavora. Abre-se mão do amor verdadeiro por estar ele num corpo que não é o que temos como o padrão do sonho, da beleza. Também se abre mão do amor pela estabilidade, pela fartura e conforto.


“Qualquer amor já é um pouquinho de saúde”. (Guimarães Rosa)


Pode parecer sem nexo isto tudo o que trago hoje, mas é que amar é difícil se não desapegamos da loucura que criaram para nós. É mesmo difícil receber o presente de mãos ocupadas. Mas acontece que este texto não será o suficiente para aceitar e viver o amor que te encontrou. Que seja! E assim se continua buscando a felicidade, a simplicidade, o padrão incrivelmente livre e louco que será mostrado para aqueles que também são infelizes. Ah, como é complicado o simples.


Eu vou lá, viver para depois contar.


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