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E os velhos cinquentões!?!

Foto do escritor: Flavia QuintanilhaFlavia Quintanilha

Toda classificação é uma maneira de segregar. Há quem diga que é uma forma de unir iguais, mas unir os iguais é separar todos os demais.


Começar assim a reflexão de hoje é fruto de meses pensando sobre envelhecer. A ocasião se tornou propícia com toda a conversa inútil sobre cringe e outras bobagens. Então, vamos para as bobagens primeiras. “Cringe” é “tudo” (ah, vai ter muitas aspas hoje porque isso tudo não faz sentido), então “tudo” que é de gosto das pessoas e que está “ultrapassado”. Calma, ninguém está falando de Vanderleia ou Menudo, rs ("rs" também é cringe dependendo de quem fala), ou seja, o termo é usado especificamente para os millennials. Ah, pensei que esse texto seria fácil. Vamos recomeçar.


Com o crescimento da população mundial os “papas” do consumo, o povo do marketing, precisava delimitar os padrões e tendências de seu público e acompanhar melhor o ritmo das transformações sociais, econômicas e tecnológicas e o que determinava suas escolhas na hora de comprar alguma coisa. Resumindo a história, resolveram classificar os consumidores da seguinte maneira: Geração Baby Boomers: nascidos entre 1940 e 1960 (atualmente com 60 a 80 anos); Geração X: nascidos entre 1960 e 1980 (atualmente com 40 a 60 anos); Geração Y (millennials): nascidos entre 1980 e 1995 (atualmente com 25 a 40 anos); Geração Z: nascidos entre 1995 e 2010 (atualmente com 10 a 25 anos); Geração Alpha: nascidos a partir de 2010 (atualmente com até 10 anos). Bem a “treta” começou entre a geração Z contra os millennals. (Saliento que eu nem poderia usar a palavra “treta”, visto que sou da “gloriosa” geração X). Então a geração Z resolveu “cancelar” a geração Y considerando seus gostos (café, café da manhã, a série Friends … e outras futilidades e para isto criou um “novo termo” (que na verdade é um verbo) para classificar seus gostos ultrapassados.


Já estou me arrependendo desta conversa. Já pensou se as gerações Y e Z não tivessem a geração X para definir suas tendências? Cabelo, roupas, música … ai que preguiça. Mas não vamos perder o foco! Todas essa introdução serve como base inicial para pensar sobre velhice e idade produtiva no mercado de trabalho. E já trago o tema afirmando que isto que foi feito, a divisão das gerações, é reafirmar e estabelecer as bases para a segregação e apagamento de uma determinada idade na sociedade, pois esta separação acaba por orientar não apenas as ações publicitárias como também a visão e tendência de contratação das empresas. Vamos ao exemplo.


Imagine uma pessoa que nasceu no final da década de 60 e que, por algum sortilégio, esteja em busca de uma colocação no mercado de trabalho. Como esta pessoa será classificada? As empresas hoje olham para quem está com 50 anos como uma pessoa já estabelecida e em vias de se aposentar, ou pensando já em sua aposentadoria. O imaginário comum tecerá uma profissão para esta pessoa, família e quem sabe filhos e netos. Mesmo que esta ficção se cumpra, o que hoje no Brasil não é mais realidade devido a mudança nas regras de aposentadoria, como seria se a pessoa em questão desejasse mudar de ramo ou emprego? É importante salientar que a visão que se tem de outra geração, a geração Y é que esta é fluida, flexível, permanece pouco nos empregos e muda conforme o que é tendência. Ou era isto! Nossa!


O que me incomoda em tudo isto é que não é assim. Voltemos ao nosso exemplo! A pessoa em questão pode ser solteira, sem filhos, com uma boa formação acadêmica, mas que também tem conhecimentos variados em outras áreas. Além disso, por nascer em uma época que apostou tudo na tecnologia, provavelmente esta pessoa conheça muito sobre o tema e tendências tecnológicas. Essa pessoa, o tiozão ou a tiazona não será contratada para qualquer cargo que esteja competindo com a geração Y ou Z, pois será vista como velha. Não será dada a ela a oportunidade de mostrar o contrário, seu RG a condena! Daí pergunto, como podemos considerar velha uma pessoa de 50 anos? Voltemos ao tema principal: toda classificação é uma maneira de segregar.


A partir do momento que olho para tudo e para as pessoas como coisas classificáveis estou tentando homogeneizar uma coisa que não permite esta possibilidade. As pessoas, e é disso que estamos falando, são únicas com gostos distintos e passíveis de aprendizado e consequentemente de mudanças. Penso que já passou da hora que o que deve mudar é a estrutura que insiste em nos determinar ou moldar. Passou da hora que o RH das empresas olhem para seus funcionários como pessoas e que, muitas vezes, são aptas e ávidas para assumir aquele cargo aberto para seleção externa. Falta comunicação, mas acima de tudo falta um olhar humano e verdadeiro sobre a situação. Mas ainda queremos o domínio, insistimos no poder em dizer quem e o que é vendável. Quem pode ou não pagar e quem vai ou não ser iluminado pela fagulha de um reconhecimento forjado. Há tanto potencial deteriorando em quartos mal iluminados desta dita geração Z. Há tando antidepressivo sendo consumido pelas gerações X, Y e Z. Há tanta vida a ser vivida pelos humanos que se permitirem sair da régua opressora da tendência.

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