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Filosofia, CANCELADA!

Foto do escritor: Flavia QuintanilhaFlavia Quintanilha

Atualizado: 12 de fev. de 2021

Gostaria hoje trazer a beleza que carregamos no olhar ao caminhar pela cidade que amamos, ou a alegria quando abrimos um sorriso de canto a canto ao encontrar por acaso um amigo querido ou até aquele sentimento bem íntimo de aconchego ao sentir o cheiro da comida da avó ao chegar de surpresa na casa. São tantos bons momentos a se trazer e sei que ultimamente os temas que venho propondo podem estar um tanto distante destes exemplos. Ando bem distante disto tudo e o que parece é que as casas nem tem mais janelas e para não me fechar num desencanto sem fim agarrei-me as únicas coisas que sei fazer, poesia e filosofia. E é desta última que falarei hoje.

Observar é um exemplo do que a vida mesmo é, um ato solitário e preciso. Solitário, pois é a propriedade mesma do viver. Pensando que somos uma célula que pensa e se relaciona, mas que cria suas próprias relações e pensamentos. E preciso num sentido de particularizar tudo aquilo a que temos contato. E é neste sentido que colocarei minhas palavras aqui hoje. Palavras resultantes de uma observação solitária e propriamente particularizada pelo contato que tenho no mundo.

Nesta dança sem par venho pensando sobre a filosofia. E numa mistura com tudo o que me afeta questiono este momento delirante em que tudo ofende e tudo obriga e tudo pesa. Delirante por não mais vermos além da superfície das coisas, o que acaba por nos ofender, pois particularizo tanto meu estar no mundo que passo a ser a regra do que não precisa e nem se aplicaria uma regra e a vida pesa. Pesa em não termos mais forças para carregar tantos nãos que estamos criando e dizendo. E aquilo que seria o contentamento dos dias passa a ter uma gravidade, uma importância, uma intensidade que nem cabe na vida. E se eu optar por tergiversar posso começar agora o tema, o discurso, sobre como a vida é muito menos do que pensamos que ela seja. E por ser tão pouco é tudo, para nós e todos os seres que aqui estão. Mas hoje não estou para poesia, quero apenas refletir sobre a inutilidade da filosofia.


Sim, esta pobre menina, “a” filosofia já não tem mais para onde correr. Mesmo tendo em suas tramas, suas tranças, o caminho para se olhar além das aparências. Não num movimento a sair da realidade, nem para mostrar-se virtuosa num pensar complexo que exclui aqueles que não falam sua língua. A filosofia convida, ela acolhe, ela oferece os elementos reflexivos para se tornar ação em refletir criticamente sobre tudo. Até sobre si mesma. A filosofia é janela para claustrofóbicos do conhecimento, é oxigênio para submersos dogmáticos, é terra à vista para os náufragos no mar do moralismo. São tantos caminhos que ela nos oferece, mas nunca pela utilidade e sim pelo desatar os nós de um pensamento ou sentimento confuso.


Em governos totalitários ela sempre é a primeira a ser humilhada, atacada, violada, apontada e ridicularizada para acabar calada. Ela passa a ser culpada pela própria violência recebida. Ah, isto já conhecemos bem. O agressor sempre aponta a roupa da vítima como culpada pela violência que ele comete. Acontece que agora, até mesmo aquelas pessoas que exigem reconhecimento exortam a pobrezinha tentando fazer parecer que existe uma filosofia boa e uma má. Que este ou aquele filósofo merece ser lido e aquele que vem de uma tradição tal não deve ser citado. Isto causa uma grande confusão, aceitar este e não aquele, mesmo sendo ele estudioso daquele que não pode ser citado. O que me faz desconfiar mais uma vez dos fundamentalistas, estando eles do lado que for. Perceba, não estou falando aqui dos haters, mas sim daqueles que defendem uma abordagem identitária que acaba por segregar. Esta busca violenta para ser visto acaba por apartar mesmo aqueles que desejam contribuir ou engajar nas questões estruturais e problemáticas da sociedade brasileira. O anseio desmedido pela construção e reconhecimento identitário não elimina o preconceito nem mesmo o racismo. Apenas afirma, mais uma vez, que existe alguém ou algo superior aos outros. É o próprio movimento do ressentimento resultando no seu pior, a violência, a exclusão. E isto quando se volta para este lugar que não posso ou não consigo ir, que não aceito, no que é próprio humano e que mais uma vez se repete opto pelo abandono, o cancelamento.

Vão tirar a filosofia das escolas? Sim, devem! Ninguém parece querer entrar nesta arena que a própria filosofia cria, a do pensamento aprofundado, a da discussão voltada para a compreensão, a do diálogo. Ela está na mira do cancelamento e não é à toa, ela que já foi amada agora é a culpada. A filosofia é absolutamente desnecessária se já sabemos tudo!

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