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Somos todos mulheres!

Ultimamente tenho refletido sobre o que é ser mulher. Vai ver que é pelo fato de já ter passado dos 50, e acredite, isso faz a gente pensar em coisas que nunca pensamos. E nesse movimento de olhar profundamente para a mulher que sou hoje acabei revisitando as mulheres todas que fui. Um trajeto tão rebelde, apaixonado e pedregoso. Duro muitas vezes e outras leve a ponto de esquecer toda a angústia de viver.

Acontece que pensar em mim faz inevitavelmente que eu pense em toda a gente, todos os que viveram e vivem e viverão. Lembrei-me da casa da lavadeira mãe de uma amiga querida que tive no 1º ano do ensino básico, que antes chamava primário. Por aquele ano e no outro eu passei quase todas as tardes naquela casa, ia logo que acabava a aula. Ia já para o almoço. Realmente o feijão dessa mulher era o melhor feijão que já havia provado. Hoje pensando bem, ela devia dar para mim a parte dela, pois a casa era tão simples que não tinha chão. Eu sempre tive meu prato de comida lá, mas o que me fazia ir àquela casa não era o tempero do feijão. Eu me sentia segura. Ficava horas horas horas olhando aquela mulher a trabalhar. E eu brincava orbitando aquele ser que para mim era a mais forte e carinhosa em meu mundo. As vezes ela olhava e sorria, outras chamava atenção da possível loucura ou bobagem que estávamos por fazer. Nunca pela bagunça, zelava pela nossa segurança.

E hoje me pergunto: o que é ser mulher? São tantas histórias de mulheres fortes, belas, sofridas, intrépidas, mulheres mulheres mulheres, por onde tanto passamos países, cidades, casas, quartos, esquinas, cabelos, batons, saias, camisas, ternos, saltos, unhas compridas ou curtas, mesas, mamadeiras, lençóis. Por todo lugar que olho vejo algum traço ou trama. Sou uma delas. És uma delas. São tantas e todas com sua história inscrita profundamente como um unhada em pele tenra.

Se o gênero é performativo, como pensa Judith Butler, e não está vinculado ao sexo natural essa coisa de ser mulher vai muito além. Se transforma e transforma o outro. E antes de responder o que é ser mulher, descobri o que se revela e sempre esteve aqui. Cada ser humano que vive nesse planeta é antes de mais, mulher. O primeiro estímulo, o primeiro alimento, a primeira sensação de prazer ou dor foi recebida de alguém e não de si mesmo. Recebido da mãe, a progenitora. O que se afirma hoje e sempre e não podemos negar: somos todos mulheres!

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©2022 por Flavia Quintanilha

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