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A cura do mundo em nossas mãos

Foto do escritor: Flavia QuintanilhaFlavia Quintanilha

Silenciosa a natureza vive. Não se recolheu um milímetro em tempos de pandemia. Transforma-se com as estações como sempre faz no agora. O agora, a única realidade. Não calcula o prejuízo da economia, nem as baixas das vidas que sucumbem ao vírus. A natureza é! Em parte alguma se abala ao perigo de andar pela rua, ir ao mercado ou metrô. A natureza vive e continuará vivendo independente da espécie humana. Se durante esse momento do “fique em casa” deixamos de lançar pesticidas nas plantações, deixamos de circular com os veículos que poluem ar e oceanos, se deixamos de jogar nosso plástico nas calçadas ou areias das praias fizemos o que deveríamos há tempos. Não interferir com tanta fúria nos faz ver calmamente que a forma de vida que criamos é insustentável. E esse, contrariando Leibniz, não é o melhor de todos os mundos possíveis. Nos superestimamos, segregamos, abandonamos, ignoramos e matamos.

Diferente do que você possa estar pensando, não esse não é um texto pessimista reafirmando o quanto a humanidade é má, que “o homem é o lobo do homem”. Diferente do que se possa pensar, esse pode ser o grande momento de crise que passaremos enquanto espécie e também a grande oportunidade de corrigir a direção dessa nau. Temos a fagulha da criatividade e com ela a possibilidade de criação. Somos também a própria natureza, apesar de nos esquecermos e nos afastarmos de nossa condição original. Mas ela está em nós. Se pararmos de lamber nossas feridas, se abandonarmos por um momento o apego aos objetos que criamos e adquirimos poderemos perceber nossa condição primeira. Mas isso nenhum chefe de estado, nenhum orientador espiritual ou cientista nos dará. É um caminho solitário o da percepção da vida.


Esse texto tampouco é um texto espiritual. O que procuro aqui é refletir sobre o fato de que estamos vivos e mudamos a cada dia. Que enfrentamos nosso pior inimigo: nossa forma de vida que não queremos abandonar. Uma forma falida desde o início. O caminho que escolhemos não foi o melhor a ser seguido até agora e podemos mudá-lo. Podemos, por nós mesmos e sem ajuda de nenhum outro, mudar! Silenciar por esse período e chegar ao que realmente somos, cada um sobre o que é. Há tantos talentos desperdiçados em horários marcados e corporações que os têm como prisioneiros. Optar pela liberdade seria o mais obvio. Por que não nos é possível? Não é?

O vírus está entre nós. A ciência chegará a uma possível cura, ou não. Mas hoje o que nos salvará é apenas a calma de permanecer em casa, aos que podem. E sinceramente, espero que todos por um tempo possam. Que possamos, ao ficar em casa, nos entregar ao silêncio. Que ao findar toda essa loucura possamos nos encontrar, olhar nos olhos uns dos outros e nos abraçar renovados pela clareza de termos um propósito primeiro, viver!

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