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Da Tristeza

Foto do escritor: Flavia QuintanilhaFlavia Quintanilha

Sem explicação, as vezes, o dia amanhece triste. É como uma fumaça que vai inebriando as horas em sua lentidão profunda e grave. Não é bem um peso. É como um ar suspenso de respostas. Uma pausa. Um hiato. Como se o tempo e todas as dores já existentes se condensasse na borda do dia. Algo que deixa o corpo num desconforto sem paradeiro.


Seria fácil dizer se fosse resultado de algo vivido, de uma perda, um descontentamento, de uma fraqueza ou ferimento, mas não é isso. Está mais para a umidade que se depara o corpo quando se chega em Belém. É como a névoa que envolve a cidade e não se distingue muito bem o que se vê. É o marear das horas.


Quem sabe, nós todos, não saibamos lidar ela. Engraçado, conseguimos aceitar a alegra sem razão alguma, mas a tristeza não. Quando ela insiste em passar o dia consigo queremos respostas e nos embrenhamos em uma cadeia de pensamentos para tentar descobrir de onde ela veio. Mas quem sabe não vem de lado algum. Ela é conosco, como todos os outros sentimentos e que nem percebemos que também estão sempre em nós. Mas ela, a rainha do lago das sombras, ela que nos desconforta, não aceitamos. Queremos saber por que veio, por que está logo agora em que tudo está bem e tudo pode ser bem visto.


Em certo sentido nos sentimos traídos quando ela chega sem avisar. E sem muita coragem evitamos olhar em seus olhos.


Nesta manhã, em que as estrelas estão em suas constelações e não as vemos, ela resolveu me acompanhar. Tomou café comigo e pelo jeito vai passar o dia. Já resolvi não fazer sala, ela resolveu ficar fazendo cada hora e meus sentidos e minhas tarefas e meus desejos e meus amores e minhas ilusões parecerem obviedades fúteis.


Quem sou eu para desacatar a majestade da existência? Ela saberá a hora de partir. Eu sei. Dou atenção ao agora e vivo. Escuto, ela tem muito a dizer no silêncio real do existir.

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