O primeiro livro que li este ano foi “Ideias para adiar o fim do mundo” de Ailton Krenak. Apesar de o autor ter uma maneira fluida e bem acessível para falar sobre um tema tão sério e polemico, a sustentabilidade, não posso deixar de fazer meu comentário sobre esta obra.
Inicio então, ao comentar este livro, uma série de análise que passarei a fazer sobre livros que me impactarem a leitura. Esses comentários ou apontamentos terão sempre a marca recensendis. Assim, quero pontuar aqui por onde caminhamos juntos sobre o que o autor apresenta, mas principalmente mostrar o que penso ser o equívoco de Krenak no que se refere ao que ele apoia sua tese: termos errado ao igualarmos a vida moderna industrializada como sinônimo de humanidade e a partir daí temermos o fim do mundo que seria a interrupção do estado de prazer que criamos na sensação de possuirmos objetos em lugar de buscarmos manter a conexão com a natureza e nossos ancestrais primordiais.
Confesso que tenho refletido muito sobre esse tema - e sem nenhuma outra crítica ao que o autor apresenta sobre o erro da busca da sustentabilidade por artifícios apoiados nem tão ingenuamente assim por todos nós - mas penso que o erro originário é outro! Erramos por termos que nos auto definir como o que há de melhor na natureza e para isso usamos parâmetros universalizantes como modernidade, sociedade ou humanidade. Como se fosse uma “prioridade intrínseca” a ser catalogada e que acaba por se reverter em uma espécie de prisão que nos determina e que serve como álibi de toda tomada de decisão injusta, sem empatia, egoísta, gananciosa e mesquinha que transforma sua própria descrição na certeza de seu avesso. A humanidade nos torna desumanos! E que revela em seu cerne a fonte de toda opressão colonizadora em se seguir um caminho que é a própria destruição da vida.
Ao ser imposto ou ao seguirmos uma tradição essencialista que funda o pensamento ocidental temos ali a fonte de toda desigualdade e ruptura com a natureza. Ao elegermos a razão como a “melhor resposta possível” para as questões humanas, incentivamos o rompimento com a natureza; a eleição de alguns como os superiores; o massacre daqueles que são escolhidos para ser o sujo, o objeto, o frágil.
É essa a raiz de pensarmos a natureza como objeto, assim como as mulheres, os negros, os animais o são diante desse olhar contaminado pelo essencialismo. Em nome de uma “humanidade civilizada” destruímos, segregamos e matamos. Mas não porque nos igualamos à máquina, e sim por agirmos como ela orientados por um critério de “quem é o melhor”. Ao nos intitularmos como os superiores dotados de razão perdemos a visão horizontal da vida e nos desconectamos. E abrimos mão de ver e fazer parte da beleza que é o todo.
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