Eita ano louco, sô! E olha, não vou desejar esperança para ninguém. Mas isto você só vai entender se chegar ao final deste texto.
O que posso dizer é que ninguém me viu no carnaval, pois é, não gosto de aglomerações. E todas as vezes que fui a algum lugar com um tantão de gente eu tive que fazer um trabalho interno e pesar entre o desconforto de estar no mesmo lugar de um monte de gente e a vontade de estar com meus amigos. Enfim, não sofri com o distanciamento na pandemia. Mas isto me fez pensar em minha maneira de ser, como vivo e qual tipo de proximidade espero com outro ser humano. Difícil. E mesmo sendo assim eu procuro as pessoas, mas até o momento que minha presença faz sentido para quem amo, caso contrário fico em silêncio. E olha, ficar em silêncio é minha especialidade. Acumulei mais horas em silêncio neste ano que todas as milhas em meu cartão. Mas este ano estava tudo diferente desde o início. Acredita que não consigo lembrar de meu ano novo? Estranho. Daí passei o carnaval todo pensando se deveria ou não sair e entrar na folia. Estranho, muito estranho! Como se eu questionasse se tinha ou não que ficar com as pessoas para acumular presença, muito estranho. Daí chega 17 de março e não saio mais de casa … que loucura. Voltei a assistir noticiário depois de 24 anos sem ver TV. E então passei o ano todo dentro de casa e posso contar um total menor de uma dezena de vezes que saí. Contando ida em médico, mercado, loja da irmã, presente para sobrinhos, casa de amiga, trabalho e casa da mãe. Acho que foram umas 15 ou 20 vezes, enfim… um ano inteiro.
E vieram os aprendizados, gravar, editar, publicar. Escrever, ler, ler, ler. Aulas on-line, meet… nunca trabalhei tanto… chegou uma hora que um buraco se abriu e passei a questionar o sentido de tudo. O sentido da vida, entende? Pois é, filósofa. Bem, se quer resposta para esta pergunta esqueça. Não há sentido. Mas pode haver propósito, pois este depende de cada um. Quando emergi do lugar que me tirou sono e horas produtivas pude ver o quanto de coisa se faz em um ano e o quanto de nada se deixa acontecer sem um minuto produtivo. O tempo as vezes é a ferrugem que corrói o corrente da bicicleta.
Em meio a todo este amontoado de horas e coisas inúteis e incompreensíveis passei pelo maior e mais importante momento de minha existência, o amor. E pasmem, isto também é uma experiência solitária. Mas é a melhor experiência possível na vida humana. Jamais esquecerei este ano!
E agora chegamos ao fim após de 120 horas de gravação, 1440 horas de aulas dadas, orientações, reuniões, cursos, palestras, livro publicado, dois livros escritos, o nascimento da sobrinha-neta, 12 luas cheias e a felicidade de um coração partido… devo estar esquecendo alguma coisa. Há sim, as lágrima. Lágrimas pela distância, lágrimas pela notícia diária de mortes precoces, lágrimas pela dor de um país inteiro.
Sabe, depois de tudo isto fico me questionando: o que desejar para o ano novo? E não, não desejarei esperança. Isto me parece ilógico diante das circunstâncias. É hora de crescer e se apegar no inexistente não me parece a melhor escolha. Seria como se eu estivesse desejando para acreditar em uma solução mágica, não sei... Então escolho desejar resistência, num convite para se apegar naquilo que você tem de mais íntimo, mais profundo que é você mesmo. Resista ao ímpeto de julgar o outro, resista àquela vontade de sair apontando os erros, resista à vontade de sair e aglomerar, resista aos pensamentos que envenenam a mente, resista a se entregar às respostas fáceis, resista à vontade de desistir. Vamos passar por isto e estamos juntos nessa.
Que o ano novo que se anuncia seja a oportunidade única de semear o amor.
Um ano próspero, com saúde, muita poesia e amor!
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